O Espaço-Oficina de Psicanálise

A fundação do Espaço-Oficina de Psicanálise, em agosto de 2019, foi consequência e fruto do trabalho de um grupo de analistas que, por seu laço e responsabilidade com a psicanálise, se lançaram, a partir de 2015, a um trabalho Outro, de discutir e interrogar, a partir dos textos de Freud, Jacques Lacan, Charles Melman, Marcel Czermak e outros, os fundamentos éticos de uma instituição analítica. O desafio posto era o da construção de um novo laço institucional, capaz de favorecer os efeitos do discurso analítico, naquilo que ele determina em relação ao lugar da causa do desejo, do trabalho do sujeito, da produção de singularidade e do estatuto do saber na experiência.

Naquele momento, algumas balizas nos orientavam: a de que a transmissão e formação analítica precisam de uma instituição, em primeiro lugar; e a de que essa instituição se faz ao longo de um caminho, sob transferência de trabalho, e a partir de dispositivos que permitam o trabalho de todos que desejem aí estar, desde que assumindo suas responsabilidades pelo que propõem. Havia um voto comum, mesmo se o desejo é sempre de cada um, de seguir apostando num laço de trabalho que já estava em curso e que precisava, naquela ocasião, de outros suportes institucionais para seguir avançando em seu percurso.

Consideramos que era fundamental propor um modo de funcionamento que permitisse remetimentos e endereçamentos, seja entre trabalhos, seja entre os dispositivos que viessem a ser propostos.

Nossa organização institucional tem se dedicado, desde então, a sustentar lugares e funções que, diferenciados, por seu enlaçamento, preservem uma assimetria que mova e sustente o trabalho.

A cada ano, desde 2015, temos um encontro semanal de discussão em torno de um seminário de Lacan, que se constitui como um eixo do trabalho institucional. Aqui, nos lançamos na experiência de cartel, em relação a qual Lacan tanto insistiu que deveria fazer parte de nosso fazer.

Dessa forma, nos organizamos em cartéis para trabalhar o seminário de Lacan, e estimulamos que questões clínicas e institucionais possam ser também objeto de trabalho a partir desse dispositivo.

Nosso voto maior é o de manter um lugar de vivo interesse e interrogação sobre o que é (do) psicanalista e qual responsabilidade nos impõe a ética da psicanálise, seja na clínica stricto sensu, seja na cidade.

Nosso Espaço-Oficina deve seu nome a uma certa imagem-significante, aquela de uma oficina, um ateliê onde, a partir de uma matéria conceitual comum, corpos de dizeres podem se pôr a criar, modelar, tecer, ler, escrever e arranjar, reconhecendo junto com alguns outros aquilo que alingua (lalangue) já fez de nós enquanto sujeitos.