Seminário O ato psicanalítico (1967-1968)
Coordenação: Eduardo Rocha, Isabela Xavier F. de Sá e Silvia Costa
Horário: terças-feiras de 10h30 a 12h30
Meio de encontro: presencial (com possibilidade de participação por plataforma Zoom)
É sabido que o seminário O ato psicanalítico foi interrompido pelos eventos de maio de 1968, cujas circunstâncias pudemos abordar um pouco no ano passado, por ocasião do início de nosso trabalho com o seminário do Avesso. Como veremos, ele foi interrompido ainda em março de 1968 por uma demonstração de solidariedade de Lacan ao movimento nascido entre os estudantes. Tivemos também a oportunidade de ler os dois encontros de Lacan com os estudantes em Vincennes, entrando em contato com a atmosfera questionadora e até mesmo pouco amistosa com ele em 1970.
Na nota preliminar da edição da ALI, Claude Dorgeuille situa este seminário como contemporâneo à proposição de Lacan sobre o passe, de outubro de 1967, que tomou o título de Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. Se no seminário do Avesso Lacan procura ler os acontecimentos de maio de 1968 a partir da ferramenta dos quatro discursos, que ele está em vias de formalizar, servindo-se dela para agir sobre a cultura – é também dessa época sua intervenção pública no rádio – no seminário O ato psicanalítico, ele interroga o desejo do analista, a passagem do lugar de analisante ao de analista.
Esse momento talvez marque também uma virada no ensino de Lacan, um deslocamento, se podemos dizer assim, de seu encaminhamento, até então orientado pela ética, em direção à lógica, que vimos culminar nas fórmulas da sexuação no seminário Encore.
Mas o que se coloca em jogo nessa passagem a analista? E por que considerar esse tempo como da ordem do ato? Ato que implica dessubjetivação, separação e perda. Se até então uma formação analítica se pautava no fortalecimento das funções egóicas e na identificação do analisante a seu analista como modelo ideal – perspectiva que Lacan já havia questionado, propondo outras balizas na fundação de sua Escola – em 1964, algo tornou necessário avançar na formalização de dispositivos institucionais que pudessem permitir tratar dessa passagem, assim como formalizar um final de análise.
Nos últimos anos, tem começado a surgir entre nós questões sobre a função de uma instituição analítica na formação para além de sua função de transmissão de um certo saber localizado por Freud e estruturado por Lacan, em especial sua função nessa passagem a analista e na autorização de um analista. Como articular o ato de término de uma análise com a possibilidade de vir a se colocar como objeto causa de desejo para um outro? Essas operações são simultâneas ou dependem de uma passagem por um dispositivo institucional? Essa passagem por um ato, como se a recolhe e se dá testemunho dela, e para quem? Essas são algumas questões que podem animar nossa entrada nesse seminário, com uma certa vantagem, se podemos dizer assim, em relação a Lacan, pois ele ainda não havia chegado aos discursos. Enfim, o que ter passado pelo seminário do Avesso retroage sobre o seminário do Ato? Qual é o significante mestre que pode nos servir de guia para a leitura dele?
